quarta-feira, 14 de março de 2012

PLANO DE ENSINO 1º/2012

UNIMONTES
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – C. C. H.

PLANO DE ENSINO


CURSO: Mestrado em Letras/Estudos Literários
DISCIPLINA: Seminário da Crônica Brasileira – Origens e Transformações
PROFESSOR(A): Dra. Maria Generosa Ferreira Souto


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EMENTA
As origens da crônica. A crônica no Rio de Janeiro no século XIX. Estudo de Crônicas de escritores mineiros em jornais do país. A crônica no Modernismo e na contemporaneidade.
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OBJETIVOS Gerais


•Estudar a Crônica Brasileira Contemporânea, com ênfase em autores mineiros.
•Analisar crônicas que representam crimes, com base na Literatura e o Mal, de Georges Bataille.
•Estudar crimes ficcionais e suas máscaras performáticas nas crônicas brasileiras.

OBJETIVOS Específicos


•Estudar a crônica como gênero literário.
•Apreender os crimes e seus códigos em crônicas de jornais e de livros.
•Compreender o crime como código de linguagem nas crônicas tradicionais e contemporâneas.
•Verificar as tensões dialéticas e as fronteiras da crônica: norma e estranhamento.
•Realizar um estudo da relação do mal e da morte como tendências da narrativa da crônica brasileira.
•Revisitar a poética do espaço, segundo Walter Benjamin.
•Desenvolver estratégias de leitura que possibilitem compreender a representação do mal e dos crimes em crônicas literárias.
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO


I - A literatura e o mal
a)Georges Bataille.
b)Georges Bataille.


II - Sombras do Mal na Literatura
a) Mal e Crime no Labirinto/Lyslei Nascimento.
b) A Ficção de Crimes norte-americana e o Mal Moderno/Julio Jeha


III – Espécies de Espaço na literatura
a)Os espaços alegóricos de Walter Benjamin.
b)Os espaços alegóricos de Gaston Bachelar.


IV - Os crimes do Texto
a)Os Crimes /Vera Lúcia Follain Figueiredo.
b)Dicção masculina-homicida / Fábio Messa.


V – Estudos críticos da crônica
a)Desconstruindo Sísifo: o tempo kairótico da crônica.
b)A crônica antropológica: literatura e ciência.
c)A crônica literária como gênero.
d)Os crimes e seus códigos.
e)O crime como código de linguagem nas crônicas tradicionais e contemporâneas.
f)Tensões dialéticas e as fronteiras da crônica: norma e estranhamento.
g)Estudo da relação do mal e da morte como tendências da narrativa da crônica brasileira.
h)A crônica: sua trajetória, suas marcas.



VI – Crônicas de XIX, do Modernismo e da Contemporaneidade
a) A crônica machadiana.
b) Crônicas de Rubem Braga e Arnaldo Jabor.
c) Crônicas de Affonso Romano de Sant’Anna.



VII – Leitura de crônicas
a)Estudo dos crimes ficcionais e suas máscaras performáticas nas crônicas brasileiras.


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METODOLOGIA DE ENSINO

O desenvolvimento desta disciplina se pautará pelos parâmetros da abordagem comunicativa de ensino mediante interação professor-aluno com o compartilhar do conhecimento por todos os envolvidos.

Serão seguidos os procedimentos que se seguem:

- Aulas expositivas dialogadas acerca de teorias pertinentes aos estudos literários.
- Discussões sobre teorias e conteúdo dessas obras.
- Leitura e análise de obras literárias.
- Seminários e debate sobre temas do conteúdo programático proposto.

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PROCESSOS E FORMAS DE AVALIAÇÃO


A aprendizagem será verificada segundo os seguintes critérios:
Avaliação da leitura de textos de crítica literária e de textos literários a partir dos subsídios teóricos, mediante:
- participação em debates;
- seminários e discussões;
- trabalho final: artigo, que deverá ser entregue até 30 dias após o término da disciplina.
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CRONOGRAMA



06 de março – 4h/a: Apresentação do Plano de Ensino
Esclarecimento acerca do instrumento de Avaliação ao final da disciplina: Escrita de um ensaio.
- Apresentação dos conteúdos.
- Aula expositiva de nivelamento;
- Teorias da Crônica.



13 de março – 4h/a : I - A literatura e o mal
- Georges Bataille.
- Georges Bataille.



20 de março – 4h/a: II - Sombras do Mal na Literatura
- Mal e Crime no Labirinto/Lyslei Nascimento.
- A Ficção de Crimes norte-americana e o Mal Moderno/Julio Jeha



27 e março – 4h/a : III – Espécies de Espaço na literatura
- Os espaços alegóricos de Walter Benjamin.
- Os espaços alegóricos de Gaston Bachelar (a cabana, a casa, do porão ao sótão).



03 de abril – 4h/a: IV - Os crimes do texto
- Os Crimes /Vera Lúcia Follain Figueiredo.
- Dicção masculina-homicida / Fábio Messa.



10 de abril – 4h/a : V – Estudos críticos da crônica
- Desconstruindo Sísifo: o tempo kairótico da crônica.
- A crônica antropológica: literatura e ciência.
- crônica literária como gênero.
- Os crimes e seus códigos.
- O crime como código de linguagem nas crônicas tradicionais e contemporâneas.
- Tensões dialéticas e as fronteiras da crônica: norma e estranhamento.
- Estudo da relação do mal e da morte como tendências da narrativa da crônica brasileira.
- A crônica: sua trajetória, suas marcas.




17 de abril – 4h/a: VI – Representação de Crimes nas Crônicas
(de XIX, do Modernismo e da Contemporaneidade)
- A crônica machadiana.
- Crônicas de Rubem Braga e Arnaldo Jabor.
- Crônicas de Affonso Romano de Sant’Anna.



24 de abril – 4h/a : VII – Leitura de crônicas
- Estudo dos crimes ficcionais e suas máscaras performáticas nas crônicas brasileiras.



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BIBLIOGRAFIA BÁSICA


BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. Tradução de Suely Bastos. Porto Alegre: L&PM, 1989.
FIGUEIREDO, Vera Lúcia Follain de. Os crimes do texto. Rubem Fonseca e a ficção contemporânea. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
MARGATO, Izabel; GOMES, Renato Cordeiro. Espécies de Espaço – Territorialidades. Literatura, mídia. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
SANT'ANNA, Affonso Romano de. Política e Paixão. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
SANT’ ANNA, Affonso Romano de. A Mulher Madura. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
SANTOS, Josalba Fabiana dos; GOMES, Carlos Magno; CARDOSO, Ana Leal. Sombras do Mal na Literatura. Maceió: EDUFAL, 2011.



BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ASSIS, Machado de. Crônicas de Lélio. Organização, prefácio e notas R. Magalhães Júnior; biografia de M. Cavalcanti Proença. Rio de Janeiro: Tecnoprint, [19--]. (Coleção prestigio).
CÂMARA JUNIOR, J. Mattoso. Ensaios machadianos. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. (Linguística e filologia).
COUTINHO, Afrânio. Crítica e críticos. Rio de Janeiro: Organização Simões, [1969]. (Crítica e história literária; v. 1).
GOMES, Eugênio. Machado de Assis: crônicas. Rio de Janeiro: Agir, 1963. (Nossos clássicos; v. 69).
MOISÉS, Massaud. A criação literária: prosa. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1983.
SÁ, Jorge de. A crônica. 6. ed. São Paulo: Ática, 1999.



BIBLIOGRAFIA SUPLEMENTAR


BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Nova Fronteira, 1998.

4 comentários:

  1. Olá, pessoal! Aqui vai uma crônica descritiva do grande escritor Rubem Braga.


    O mato

    Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vagalumes nem grilos. Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estalava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinas impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém. Por um instante, o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos - mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou trieste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral. E pouco a pouco ele foi sentindo uma paz naquele começo de escuridão, sentiu vontade de deitar e dormir entre a erva úmida, de se tornar um confuso ser vegetal, num grande sossego, farto de terra e de água; ficaria verde, emitiria raízes e folhas, seu tronco seria um tronco escuro, grosso, seus ramos formariam copa densa, e ele seria, sem angústia nem amo; sem desejo nem tristeza, fone, quieto, imóvel, feliz.
    In: 200 crônicas escolhidas. 6 ed. Rio de Janeiro. Record. 1978, p.260-1.

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  2. Oi, Marcia, tudo bem?
    Muito feliz a escolha da sua crônica, formidável! O Braga é incomparável e em algumas de suas crônicas ele nos oferece essas descrições que nada têm de "fácil" - com certeza exigem um expressivo trabalho com a linguagem. Abraço, Alex.

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  3. Generosa e colegas,
    vai um belo exemplo de crônica poética, de Fernando Sabino.
    pensador.uol.com.br/a_ultima_cronica_de_fernando_sabino/

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    Respostas
    1. A útima crônica

      A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

      Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

      Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.

      O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

      São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

      Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."
      Fernando Sabino

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